quarta-feira, 30 de setembro de 2015

Caravanas Literárias


Caravanas Literárias

 
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Caravanas um dia partiram levantando poeira na estrada. Caravelas e navios deixaram rastros sobre a agua. Um rastro de fumaça ou vapores d’água, hoje ficam pelas estradas onde as caravanas passam, as novas caravanas motorizadas, embarcadas em vans, com suas vans picapes e filosofias anotadas. Um motorista segue como cocheiro, transporta passageiros em motores à cavalos (HP).

Caravanas literárias partem rumo ao desconhecido. Um ambiente literário inóspito a ser desbravado. Sem a certeza de espaços e seres que vão encontrar, e vão conhecer em outras paragens, depois de apreciar algumas paisagens. Encontrar seres alfabetizados, falantes e amistosos é o seu primeiro objetivo. Seres com que possam negociar suas mercadorias. Seres que podem estar despidos daquilo que a caravana leva consigo, o conhecimento através da literatura, seus pontos de vistas, a partir de que cada desbravador artista literário, escreveu e construiu em um livro.

Levam um conhecimento e esperam uma contrapartida. Partem em busca de novas pedras e novos metais; novas preciosidades e novas especiarias que contribuam com seus conhecimentos e artes até aqui adquiridos, e registrados em livros. Buscam um reconhecimento. Vão em busca de novos elementos que possam contribuir com seus pensamentos para criar novos conhecimentos. Partem em busca de novos povos que sabem existir no final da estrada, seres acampados em escolas, com muito ou pouco conhecimento, a partir de suas ideias e pontos de vista. Não existe uma certeza do que podem encontrar no final das estradas. Talvez nenhum conhecimento daquilo que a caravana leva em suas bagagens bibliográficas. Será necessário primeiro cativa-los e catequiza-los com seus deuses e personagens anotados em livros.

Identificam escolas e cidades com um povo reunido, que podem ter ou não ter arquivos de conhecimentos, que os caravaneiros chamam de bibliotecas. Um conjunto de livros enfileirados sobre prateleiras, ordenados e catalogados para facilitar buscas e acessos com as suas referências. Arquivos que podem registrar a própria história local ou histórias de outros lugares. Por vezes procuram o pajé dos livros e não acham, e o cacique justifica a sua ausência: por falta de recursos, falta de estrutura, ou falta de paciência.

Os indígenas brasileiros não tinham as denominadas bibliotecas, mas tinham estratégias de perpetuar seus conhecimentos e sua cultura. A cultura guardada, o conjunto de conhecimentos, estaria representada em seus corpos e utensílios, armas e equipamentos. Pinturas, cores e formas, que eram constantemente lidos e revisados em danças e datas festivas. O descobridor não entendeu, e julgou-os como possuidores de uma linguagem oral, e sem escrita. Resumindo: não tinham um conhecimento, já que não perpetuavam suas vitorias e conquistas.

Caravaneiros literários buscam levar suas práticas e conhecimentos. Tem a missão de catequisar alunos e professores a exercerem sua cultura, vinda de outras plagas, na pratica da leitura como um conhecimento. Tal como fizeram descobridores impondo sua religião e seu Deus, sem ensinar como rezar, eram os eternos não civilizados e pecadores. Em tempos de internet, ainda é possível encontrar alguns cidadãos que não estão antenados com a estratégia da literatura, um modo rudimentar de transmissão do conhecimento, inventado a alguns séculos passados. Parecem ser seres bastante atrasados, em suas culturas, sem uma literatura.

Descobridores distribuíram espelhos como presentes e souvenir, aos indígenas que encontraram, hoje já não é necessário distribuir pedaços de espelhos quebrados. Muitos já possuem um pequeno aparelho nas mãos que servem tal como um espelho, onde podem congelar um momento, e ver outros seres, do outro lado do mundo.

Caravaneiros levam suas práticas e realizam um ritual, com um povo reunido, a missa pascal. Fazem uma primeira reunião tal como um dia desembarcaram, e realizaram uma primeira missa. Com um evento ritualístico e documentado, deixam seus conhecimentos e seus livros. Deixam uma atitude com um intensão, de que podem voltar e encontrar outros seres mais evoluídos, seres que leram os seus livros. E tal como os índios, muitos não estarão preparados para sua chegada, mas são seres amigos e receptivos.

Não existindo uma certeza do que encontrar na estrada, torna-se necessário levar outros equipamentos, além de bussola e astrolábio; e outros pensamentos de novas tecnologias, que possam ser aplicados ou utilizados. O ser que viaja não é o mesmo ser que volta, tal como aquele ser que está lá longe em outro lugar, e diariamente se banha com outras aguas, que percorreram outras paragens.

Em outras épocas comerciantes investiam nas viagens de descobrimentos, com a intenção de obter mercadorias. Hoje os comerciantes podem investir em caravanas literárias, obtendo outras regalias, como a renúncia de impostos, com seus nomes expostos nas viagens formadoras de novos leitores e consumidores, que podem consumir seus serviços e mercadorias. E até estabelecer suas benfeitorias, quem sabe um café literário, substituindo a companhia do chá das índias.

 

30/09/15

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